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Santa Jacinta Marto

O Trabalho que fez sobre si mesma

 

de Pe.César Cuomo icms

 

Num olhar superficial, poderia parecer que Santa Jacinta Marto, a mais jovem vidente de Fátima, fosse uma santa predestinada, como se dissesse: “nasce-se santo”. Na realidade, há episódios que mostram como também ela percorreu um curto mas intenso caminho de ascese para chegar àquela santidade que a Igreja proclamou solenemente, primeiro em 2000 com a sua Beatificação e depois em 2017 com a sua Canonização.

Certamente que o ambiente familiar e o das gentes de Fátima influenciaram positivamente aquela religiosidade simples mas genuína, fruto de uma fé que, ao longo do tempo, afetou profundamente o tecido social daqueles lugares, apesar da influência dessacralizadora da classe política que então governava.

Mas, como todos nós, também Santa Jacinta herdara o pecado original que, embora apagado pelo Batismo, deixara nela traços que necessitavam de um esforço, sustentado pela graça de Deus, para serem apagados e fazerem resplandecer em plenitude o rosto de Cristo.

Lúcia conta que: “A sua companhia tornou-se, por vezes, bastante desagradável, devido ao seu carácter demasiado melindroso. Qualquer questão, daquelas que se levantam entre as crianças quando estão a brincar, era suficiente para a fazer ficar amuada num canto, amuada, a prender o burrinho, como dizíamos. Para a fazer retomar o seu lugar no jogo, não bastavam as carícias mais suaves que, nestas ocasiões, as crianças sabem fazer. Era então necessário deixá-la escolher o jogo e o companheiro com quem queria fazer parceria.

Como é natural, todas as crianças gostam de brincar, de escolher jogos e de ganhar, no entanto: “A Jacinta escolhia os jogos com que nos entretínhamos. Os seus jogos preferidos eram, quase sempre, o das pedrinhas ou dos botões, que jogávamos sentados naquele poço, que era fechado, lá no alto, com lajes de pedra e à sombra de uma oliveira e duas ameixeiras. Por causa disso, muitas vezes ficava muito aflita, porque quando éramos chamados para comer, encontrava-me sem botões na roupa. Normalmente, era ela que mos tinha tirado; e isso bastava para a minha mãe me repreender. Tinham de ser cosidos rapidamente; e como é que eu os poderia obter se, para além do seu defeito de amuar , ela também era mesquinha? Ela queria guardá-los para o próximo jogo, para não ter de rasgar os seus. Só com a ameaça de não jogar mais com ela é que acabei por os recuperar!”.

É, pois, Lúcia, a pessoa que melhor a conhecia, com quem Jacinta se sentia mais à vontade, que nos fala explicitamente de alguns aspetos negativos do seu carácter: irritava-se facilmente, era teimosa, melindrosa e mesquinha; não suportava perder e exigia que os outros pagassem penitência quando perdiam, insensível ao incómodo que lhes podia causar. O importante é que ela estava bem.

Se a Jacinta não tivesse ido para o Céu tão cedo e não tivesse enveredado por um caminho de conversão sob a orientação de Nossa Senhora, poderíamos imaginá-la, já adulta, como alguém fechada no seu egoísmo, rabugenta, atenta apenas aos seus próprios interesses e indiferente ao sofrimento que a rodeia.

Afinal, é exatamente isso que acontece muitas vezes na nossa sociedade atual, vítima da mentalidade individualista que se espalhou devido à perda dos valores cristãos. Pensa-se, por exemplo, apenas em comer, divertir-se, ou mesmo trabalhar, mas só para si ou para os seus; quanto mais se tem, mais se quer ter, talvez discutindo com os outros, incluindo os familiares, quando surge um “conflito de interesses”. Esta atitude provoca o endurecimento do coração, ou seja, faz com que se perca, mesmo sem se dar conta, a capacidade de sentir os sentimentos de compaixão e de misericórdia que nos levam a uma solidariedade ativa com os que estão em dificuldade.

Não se deve esquecer, porém, que, como qualquer pessoa, a pequena Jacinta tinha, por natureza, muitas qualidades, como a própria Lúcia sublinha: “Tinha, porém, já naquele tempo, um coração muito bem inclinado; e o bom Deus tinha-a dotado de uma disposição doce e terna, que a tornava, ao mesmo tempo, amável e atraente”.

Não são as caraterísticas naturais positivas que fazem de uma pessoa um santo, mas estas constituem o fundamento natural sobre o qual assenta todo o edifício espiritual que, pela ação da graça de Deus, conduz a pessoa à santidade. Uma alma naturalmente boa e terna é mais dócil à ação divina, é um bom terreno onde Deus pode semear e colher, a seu tempo, muitos frutos; não é, porém, uma “garantia absoluta” de bem. Se uma alma naturalmente dócil não for plasmada pela graça e pela virtude divinas, pode conduzir a graves erros de vária ordem, e não apenas no domínio afetivo.

Quaisquer que sejam as boas qualidades naturais com que Deus a dotou, a alma deve, no entanto, empreender um trabalho interior para “lavrar a terra”, isto é, para purificar as inclinações ou impulsos negativos que tendem a poluir e a sufocar a “semente” lançada por Deus e a capacidade que Ele dá a cada alma de se doar na caridade.

Não é por acaso que a Igreja, antes de declarar solenemente a santidade de uma pessoa, verifica cuidadosamente o seu itinerário, verificando a prática heróica das virtudes. A heroicidade brilha sobretudo naqueles aspetos que exigiram um empenho ainda maior da pessoa em questão, devido às “resistências” produzidas pelas peculiaridades do carácter. Estas evidenciam ainda mais o desenvolvimento espiritual que só a graça de Deus poderia realizar, sustentando sempre a boa vontade do sujeito.

Em Santa Jacinta Marto, este “salto qualitativo” é particularmente evidente. Dela, Lúcia, que antes das aparições de Nossa Senhora tinha descrito como impaciente, mesquinha e caprichosa, testemunhará mais tarde: “O que sei, para além do que já disse sobre a sua paciência na doença e a fortaleza que mostrou na prisão, é que a Jacinta se dedicou também à prática de mortificações extraordinárias para a sua idade. Tais eram, por exemplo, privar-se de uma merenda para a dar a outras crianças pobres... Jacinta, entre outras virtudes, praticava a mortificação num grau que bem podemos chamar heroico. Por vezes, dava uma merenda a ovelhas ou a outros pastorinhos, mesmo quando tinha fome. Privava-se de água, usava um pedaço de corda como cinto sobre o corpo, e fazia tudo por amor de Deus e pela conversão dos pecadores”.

Como explicar uma tal mudança em tão pouco tempo, numa criatura tão humanamente frágil? Com a graça de Deus, certamente, mas apoiada numa forte motivação recordada por Lúcia no final do seu testemunho: “fazia tudo por amor de Deus e pela conversão dos pecadores”.

A contemplação da beleza e da bondade de Deus e de Nossa Senhora, e as outras visões celestes que a fizeram compreender a beleza e a alegria do paraíso e o desespero do inferno, motivaram extraordinariamente a sua vontade.

Tudo isto é também uma ajuda para nós e para o nosso caminho de fé. Se esta pequena criatura, depois de ter visto as realidades celestes, realizou uma mudança tão grande, isso significa que vale a pena, também para mim, levar a sério as coisas de Deus e empenhar-me com todas as minhas forças num caminho de crescimento espiritual, por causa do “valor do que está em jogo”.

Não posso cair na tentação de pensar: “Não sei, nunca vi nada!” como desculpa para não me empenhar num caminho de conversão.

 

As palavras que Bento XVI dirigiu aos peregrinos por ocasião da sua visita ao Santuário de Fátima, em 2010, também se aplicam a nós: “Ao ouvir estas inocentes e profundas confidências místicas dos Pastorinhos, alguns poderão olhar para elas com um pouco de inveja porque viram, ou com a resignação desiludida de quem não teve a mesma sorte, mas insiste em ver. A essas pessoas, o Papa diz como Jesus: “Não é por isso que estais em erro, porque não conheceis as Escrituras nem o poder de Deus?” (Mc 12,24). As Escrituras convidam-nos a acreditar: “Felizes os que não viram e acreditaram” (Jo 20, 29), mas Deus - mais íntimo de mim do que eu próprio (cf. Santo Agostinho, Confissões, III, 6, 11) - tem o poder de chegar até nós, sobretudo através dos sentidos interiores, para que a alma receba o toque suave de uma realidade que está para além do sensível e lhe permite alcançar o não-sensível, o não visível aos sentidos. Isto exige uma vigilância interior do coração que, na maior parte das vezes, não temos devido à forte pressão das realidades exteriores e das imagens e preocupações que enchem a alma. Sim! Deus pode chegar até nós, oferecendo-se à nossa visão interior”. 

 

Confiemos, pois, em Deus, cultivemos, como Santa Jacinta, a nossa vida interior, e também as nossas almas serão alcançadas pelo toque leve, mas muito eficaz, da graça de Deus, e também nós poderemos saborear como o Senhor é belo e bom (cf. Sl 33,9), mesmo sem uma experiência mística particular.

 

 

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