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A Eucaristia: presença de Cristo no mundo

Catequeses FCIM 2023-24

de Ir. M. Patrizia Innocente icms

 

“São vários os modos pelos quais Cristo está presente na sua Igreja. Cristo está presente na sua Igreja que reza, que pratica as obras de misericórdia, que prega, que governa e rege o povo de Deus; está presente na sua Igreja peregrina que anseia pelo porto da vida eterna; está presente na sua Igreja que em seu nome celebra o Sacrifício da Missa e administra os sacramentos. Mas bem diferente é o modo verdadeiramente sublime como Cristo está presente à sua Igreja no Sacramento da Eucaristia. Esta presença é dita “real” não por exclusão, como se as outras não fossem reais, mas por antonomásia, porque é também corporal e substancial, e em virtude dela Cristo, o Homem Deus, torna-se presente na sua totalidade”.

 

Assim escreve S. Paulo VI na sua Encíclica “Mysterium Fidei”, na qual explica que dizer “presença real e total de Jesus” e “Eucaristia” é a mesma coisa: a Eucaristia é o próprio Jesus, com todo o Seu Corpo, com todo o Seu Sangue, com toda a Sua Alma e com toda a Sua Divindade “presente em todos os sacrários do mundo”, como o Anjo ensinou aos três pequeninos Lúcia, Francisco e Jacinta, na Loca do Cabeço, aparecendo-lhes pela terceira vez, naquela bela oração que diz o seguinte

Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, presente em todos os sacrários do mundo, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças, com que Ele é ofendido e, pelos méritos infinitos do Seu Sacratíssimo Coração e do Imaculado Coração de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores.”

Esta é uma verdadeira catequese angélica que, para além de nos recordar os dois Mistérios principais da nossa fé (a Unidade e Trindade de Deus e a Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo), nos faz compreender o caminho da autêntica conversão, fruto de um amor que corresponde plenamente ao que nos é eternamente dado por Deus.

Corpo, Sangue, Alma e Divindade” são as caraterísticas de uma Pessoa viva, se, de facto, faltasse um destes elementos, significaria que estamos a falar de alguém que está morto ou, pelo menos, de alguém que não é o Homem-Deus. Cristo não é apenas um homem, não está morto, mas, na sua omnipotência, ressuscitou dos mortos e está sentado à direita do Pai, e, esse mesmo Jesus que habita gloriosamente no Céu, desce ao altar sob as aparências do pão e do vinho para permanecer connosco, encarnando de novo nas mãos do sacerdote em cada Santa Missa, na qual se renovam a sua Paixão, Morte e Ressurreição.

Aquele que adoramos na Eucaristia é algo de substancial, mas está também tão escondido dos nossos sentidos que é uma das verdades mais difíceis de acreditar na nossa fé. No entanto, aproximar-se deste Sacramento é estar mais perto de Cristo do que os Apóstolos, que seguiam o Mestre pelas ruas da Palestina: é uma grande graça e uma fonte inesgotável de benefícios para a alma. Porque os Apóstolos viram-No e tocaram-No, enquanto nós temos a graça de O poder receber dentro de nós e de sermos um com Ele. No entanto, muitos não acreditam que Ele está lá.

Em Fátima, o Anjo ensina a oferecer a Eucaristia “em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele é ofendido”, porque são muitos os que, por falta de fé, ofendem a Deus no Santíssimo Sacramento. E em que é que eles não acreditam?

No fenómeno da transubstanciação, que o Concílio de Trento tão bem definiu:

Desde que Cristo, nosso Redentor, disse que o que Ele oferecia sob a forma de pão era verdadeiramente o seu Corpo, na Igreja de Deus sempre houve a convicção, e este santo Concílio volta a declará-la agora, de que com a consagração do pão e do vinho se dá a conversão de toda a substância do pão na substância do Corpo de Cristo, nosso Senhor, e de toda a substância do vinho na substância do seu Sangue. Esta conversão, portanto, de modo conveniente e apropriado, é chamada pela santa Igreja Católica de 'transubstanciação'.”

Para compreendermos o que é exatamente a “substância” e o que se entende por “aparências”, vamos dar um exemplo, considerando o pão comum. Quer nos encontremos diante de um pão acabado de cozer ou de um pedaço de pão velho, sabemos que temos sempre pão diante dos nossos olhos, e esta é a “substância”, que não muda. O que muda, porém, é a qualidade do pão: fresco e macio no primeiro caso, velho e duro no segundo, e estas são as “aparências”, ou seja, o que os nossos sentidos experimentam.

O mesmo acontece com a Eucaristia: só à aparência dos nossos sentidos é que o pão e o vinho continuam a ser o que eram. Sim: “eram”, porque se a substância muda, tudo muda: falamos de uma coisa nova, diferente do que era noutra substância. Portanto, o pão já não é pão, mas o Corpo de Cristo; o vinho já não é vinho, mas o Sangue de Cristo. O Senhor transformou-lhes a natureza pela sua Palavra omnipotente: “Isto é o meu Corpo.... Isto é o meu Corpo, Isto é o meu Sangue”. É errado dizer que o pão e o vinho continuam a existir juntamente com o Corpo e o Sangue de Cristo, como afirmava Lutero.

A presença de Cristo na Eucaristia é perpétua enquanto persistirem as aparências do pão e do vinho (também conhecidas como “espécies”), ou seja, permanecerem intactas, razão pela qual o Santíssimo Sacramento deve ser conservado num lugar digno, verdadeiro centro espiritual da comunidade e da Igreja universal.

Quanto à persistência das espécies, se as hóstias já não são comestíveis, Cristo já não está nessas hóstias? Não, isso seria um grande erro. É preciso lembrar que a hóstia já não deve ser considerada como um alimento qualquer, que se deita fora quando já não é comestível, mas que, mesmo suja ou já parcialmente corroída pela saliva, etc., continua a ser, na sua aparência, pão.

Por outro lado, a conservação das hóstias num lugar digno é o ponto de partida para as várias formas de culto eucarístico, sempre preconizadas pela Igreja e que incluem as visitas ao Santíssimo Sacramento, a adoração prolongada da hóstia exposta, com a consequente bênção com o Santíssimo Sacramento,  a exposição perpétua e as procissões com o Santíssimo Sacramento, expressão tangível e pública da nossa fé. Além disso, na Quinta-feira Santa e na Solenidade do Corpo e Sangue do Senhor, a instituição da Eucaristia e a natureza deste sacramento são celebradas pela Igreja, respetivamente.

A presença física de Cristo na Eucaristia não deve ser considerada como uma presença local, não é a presença a que estamos habituados, pelo que teria de haver tantos Jesus como hóstias individuais, ou, dividindo a hóstia em várias partes, estaríamos a dividir Jesus em pedaços, mas o único Cristo está presente da mesma forma em cada fragmento mais pequeno, como na hóstia maior.

A comunhão sob as duas espécies não deve ser considerada mais completa, porque isso significaria que cada uma das duas espécies estaria incompleta, enquanto que em cada uma das duas espécies há o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Jesus, vivos e verdadeiros e, portanto, inteiros.

É certo, porém, que a Comunhão sob as duas espécies representa melhor o Sacrifício da Cruz de Cristo, mas em termos da Sua presença real, em comparação com uma única espécie, nada muda e nada acrescenta, caso contrário as próprias hóstias que são guardadas nos tabernáculos seriam elas próprias incompletas...

Desde o início, os cristãos acreditaram que a presença real de Jesus na Eucaristia não termina com a celebração da Santa Missa e, ao longo do tempo, foi crescendo na Igreja a consciência da importância da adoração do Santíssimo Sacramento.

Um dos primeiros exemplos do amor cristão pela Eucaristia é o mártir São Tarcísio, que deu a vida para defender o Santo Viático, que lhe tinha sido confiado, da profanação dos pagãos.

É verdade também que, ao longo da história, a Igreja teve de defender este precioso tesouro de tantas heresias que ameaçaram a verdadeira fé. Entre elas, em particular, a heresia protestante que, sob diversas formas, questionava a necessidade de conservar a Eucaristia nos sacrários, alegando que a presença real de Cristo terminava com o fim da celebração da Santa Missa.

Outros, por outro lado, sob o pretexto de fazer cair na sua lógica meramente humana o que é admiravelmente divino e sumamente digno de respeito, insinuam que a Eucaristia é um mero símbolo e não a presença real de Jesus vivo e verdadeiro.

Outros ainda reduziriam este Sacramento a uma espécie de pão espiritual, que conduz à vida eterna, mas que não seria Cristo, que é a própria Vida.

Há uma verdade inabalável: em cada sacrário está presente o Coração palpitante de Cristo, o prisioneiro amoroso, que nos mantém vivos com o seu Amor, esperando a união connosco.

 

 

 

 

 

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