O Mistério do Natal: esvaziou-se a Si mesmo

de Pe. Alberto Galassi icms

«O que mais me toca é o amor que levou Jesus a deixar o seio beatífico do Pai para descer a esta terra».

São palavras que fazem eco daquelas com que S. Paulo encerra todo o mistério da Encarnação: “Ele, que é de condição divina não considerou como uma usurpação ser igual a Deus; no entanto, esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de servo. Tornando-se semelhante aos homens e sendo, ao manifestar-se, identificado como homem, rebaixou-se a si mesmo, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. Por isso mesmo é que Deus o elevou acima de tudo e lhe concedeu o nome que está acima de todo o nome, para que, ao nome de Jesus, se dobrem todos os joelhos, os dos seres que estão no céu, na terra e debaixo da terra e toda a língua proclame: “Jesus Cristo é o Senhor!", para glória de Deus Pai”. Cfr Fil 2,6-11

E por que se despojou a si mesmo?

O mistério do Natal é o mistério do Amor: é o mistério de quem quer atingir o amado e para fazer isso está disposto a deixar a sua condição de felicidade, bem-aventurança. Uma descida na direção ao homem e de renúncia de si mesmo, que caraterizará toda a existência de Jesus até à cruz.

Despojou-se a Si mesmo, esvaziou-se; fez-se vazio, aniquilou-se, tomando a condição de servo tornando-se semelhante aos homens. Portanto não só desceu do Céu, mas assumiu a nossa natureza humana; de outra forma como poderia aparecer aos homens? È por isso que o vemos simplesmente uma Criança.

Como é difícil para nós entender este despojar-se de Deus, este seu esvaziar-se. Poderíamos tentar compreender isto pensando no mistério da Transfiguração, ou o a décima estação da Via Sacra: Jesus despojado das suas vestes.

Se nós contemplássemos mais este movimento descendente de Deus, aprenderíamos muito com esta primeira lição que o Senhor nos dá, aparecendo no mundo. Despoja-se para nos enriquecer com a Sua veste, com a Sua Graça, com o Seu Amor. Aquele Menino naquela gruta, entre muitas coisas que quereria dizer-nos, mostra-nos apenas com o Seu aparecer, o percurso que também nós devemos fazer: despojar-nos, esvaziar-nos. De quê? Do homem velho, do pecado, para nos revestir com a veste nova, divina, que Jesus mereceu para cada um de nós e como? Já dissemos: despojando-se da sua natureza divina, tornando-se homem e morrendo na cruz.

Eis porque somos chamados a contemplar o mistério do Natal, de Deus que se faz o mais pequeno; sim, deve despojar-se, deve esvaziar-se, deve fazer-se pequeno, Criança, para poder dar-se, dar-se a Si mesmo a cada um de nós.  Este Menino Deus, está à tua disposição e ao mesmo tempo comunica-te aquela força por meio da qual tu podes unir-te a Ele de coração.

Este seu ser Menino, pequeno, caraterística permanente de Jesus  atingirá o seu ápice na Eucaristia. O que é que há de mais pequeno, de mais frágil do que aquela Hóstia? Aquela Hóstia está ali para ser comida, para que a comunhão entre ti e Deus chegue ao ápice. Ele comunica-te a força, o Seu Espírito, o Amor.

Sem este amor, tu serás sempre prisioneiro de ti mesmo, voltado para o abismo obscuro de ti mesmo, num viver egoístico. Sem aquele amor,  tu serás sempre escravo de ti mesmo, dos teus pecados, das tuas paixões, dos teus vícios, de todas as raízes, ervas trepadeiras que apertam o teu coração, e que te impedem de amar verdadeiramente, levando-te, quase como um corpo pela lei da gravidade, a precipitar-se para baixo, pelo egoísmo, em vez de erguer-te para o alto, para Deus.  Sem este Amor, ficarás na tua solidão, a solidão do egoísmo, do amor próprio, do pensar sempre em si mesmo, do servir-se do outro para si, do ser incapaz de se oferecer ao outro e de viver a própria vida no serviço de Deus e dos outros.