Sem tempo e sem limites

De Irmã Paola Lanzilotti icms

Naquela noite em que era muito tarde, regressávamos de visitar o Milagre Eucarístico de Lanciano durante um campo de férias, e voltávamos à casa onde estávamos hospedadas. Eu era uma jovem freira, em idade e em anos de profissão religiosa, apenas 2 anos. Entretanto o meu irmão em Cristo, sacerdote, estava a conduzir, percebi que havia um silêncio inusitado para um carro cheio de crianças.

Virei-me: todas as meninas tinham adormecido, cansadas do dia. Olhando para elas, senti a responsabilidade de cuidar de cada uma delas... os pais as confiaram a nós, mas antes disso Deus as havia confiado a mim. Creio que foi justamente nesse momento que tomei realmente consciência da missão que o Senhor havia pensado para mim , chamando-me à vida consagrada: ser uma mãe, mas de uma forma diferente das outras mulheres.

Voltei a sentir essa sensação muitas vezes, e nas mais diversas situações. Quando passei duas semanas num hospital do norte e entrei furtivamente na pediatria para dar um carinho, um sorriso, aos pequenos "hóspedes" doentes e uma palavra de conforto aos pais que os assistiam. E depois nos oratórios, noutros campos de férias, em catequeses para transmitir a fé, para formar corações no amor de Deus. Para todas as idades. Sim, porque esse tipo de maternidade não tem tempo, nem fronteiras, nem limites.

Aconteceu quando visitei as casas de idosos deixados sozinhos pelos filhos (fora em trabalho), levando comigo a imagem de Nossa Senhora; ir visitar os doentes (mesmo doentes terminais), apertar as suas mãos, ver as lágrimas em seus rostos. Me senti uma mãe quando preparei o meu pai para entrar no céu, e quando estive ao lado de minha mãe nos dias seguintes. Ouvi desabafos e temores de mulheres mais velhas do que eu, senti-me absolutamente incapaz de aconselhar... Este é o ponto: a maternidade espiritual não se baseia nas minhas forças ou habilidades, mas tem as suas raízes em Deus.

Sei que se me afastasse do Senhor, também me distanciaria das almas. Ele me escolheu para isso, afinal, para dizer a cada pessoa ao longo da minha vida que Ele existe, e que me quer usar para levantar, entender, consolar, indicar um objetivo, apontar para o alto...

Se eu não fizesse isso, se eu não trouxesse as almas para perto Dele (mas apenas as trouxesse para mim), então eu não seria uma boa mãe, porque uma verdadeira mãe quer o melhor para seus filhos, e o melhor tem nome e rosto: Jesus Cristo.

Nem sempre é fácil; é preciso muita oração e muito silêncio. Isto é o que eu deveria aprender a fazer cada vez melhor: silenciar para ouvir, com o coração, tudo o que a pessoa à minha frente quiser compartilhar sobre si mesma, e saber ler até o que não é dito; e silêncio para ouvir a voz de Deus a dizer-me como me comportar, o que fazer ou não fazer, o que dizer ou não dizer e como dizer. De fato, estamos a falar de almas e de quanto respeito e delicadeza a missão de ser mãe exige, mas também de outras formas de força, clareza, fidelidade.

Certa vez, eu estava tão preocupada com uma pessoa que passei a noite inteira, uma quinta-feira santa, a falar com Jesus sobre ela, rezando por ela, para curar suas feridas, e pedindo luz para acompanhá-la na sua jornada.

Eu absolutamente não acredito que sempre faço o meu melhor, os erros fazem parte da vida, mas sei que uma coisa é errar, outra é errar amando. E sei que o Senhor, que é maior do que eu, sabe ir além das fraquezas dos seus instrumentos.

O papel de Maria Santíssima, Modelo de toda maternidade, é fundamental. Que ela me ensine a amar e a seguir o seu exemplo: levar almas a Jesus. Isso é tudo.

Agradeço a Deus pela confiança que depositou em mim ao permitir que eu caminhasse perto de seus filhos e filhas.

Não há palavras para descrever a alegria que sinto em poder olhar alguém nos olhos e dizer que a vida vale a pena ser vivida, que a sua vida é um presente maravilhoso.

Em poder dizer: "Você é precioso para Deus, e também para mim".