O meu Coração Imaculado será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus (parte II)

De Beatriz Martins

(O meu terceiro e quarto refúgios e a descoberta da vocação)

Praticamente, de uma forma muito sintetizada, um dos membros do grupo dos “Amigos”, encontrou um Servo do Coração Imaculado de Maria nos confessionários de Fátima, que convidou para participar num retiro de famílias organizado pela sua comunidade ali em Fátima. Palavra passa palavra... E foi assim que conheci a grande Família do Coração Imaculado de Maria, um Movimento que nasceu em Itália mas cujo Carisma é a mensagem de Fátima, formado pelos Servos, as Servas e os Leigos.

Eu tinha 10/9 anos, era pequena...

Mas para dizer a verdade, a primeira vez que vi as irmãs, com o hábito azul e o grande terço à cintura, desejei com todo o meu coração ser como elas e ter um terço igual. Penso que Deus Pai escolheu a minha alma e queria-a toda para Ele já desde pequena e na sua bondade conservou-me este coração.

Na altura comecei a frequentar as atividades propostas pelas Servas, campos de férias de verão e inverno, retiros, e quando já era um pouco mais crescida convidavam-me também para as ajudar na cozinha quando necessário.

Foram anos de graça em que alimentei a minha relação com Jesus. Ali encontrei a ajuda espiritual de um dos padres e o mesmo do lado das irmãs, o que recebiam de graça da parte de Deus davam-no de graça. Digamos que eram entendidos acerca de vocação e com simplicidade ajudaram-me a crescer com o desejo de fazer a vontade de Deus na minha vida. Era o essencial!

E como se não bastasse... Ao frequentar a casa da FCIM conheci a Mafalda, que é até hoje uma amiga muito especial! Esta amizade foi o meu “quarto refúgio”, tínhamos praticamente a mesma idade e podíamos partilhar juntas a experiência com Jesus...

Fui crescendo neste santo ambiente e ansiava terminar o ensino secundário para poder entrar no convento, tinha a certeza que Jesus me queria ali. E não estava sozinha porque a Mafalda também sentia a chamada, tínhamos já vivido inúmeras experiências juntas em Fátima com as irmãs, com toda a FCIM na verdade...

Sentia-me parte daquele Movimento e ao mesmo tempo era uma parte de mim, organizava-me em função das propostas que nos faziam, como também a minha família, a Comunidade da Anunciação, era um carisma que nos pertencia... E que sobretudo nos enchia de Deus e nos dava a alegria de partilhá-Lo.  O espirito era aquele e a vida religiosa atraia-me...

Então, em agosto de 2021 haveria um campo vocacional em Itália em que eu e a Mafalda participaríamos. Só que.... quando o dia se aproximou.... senti medo! Dentro de mim comecei a realizar que “deixar tudo e seguir Jesus” não eram só palavras. Estes meus refúgios eram muito preciosos e pensar em deixá-los fazia-me sentir medo.

Era uma chamada a deixar coisas que eram muito boas, que de algum modo me ligavam a Jesus, deixar a minha família, uma comunidade que se reunia para rezar, e uma Obra florida do nosso Movimento cheia de vida e atividades... Quando falamos de coisas que nos levam ao pecado é obvio que para seguir Jesus temos de as deixar, neste caso era algo que me ajudava no caminho da virtude.

Mas tinha de escolher ou os meus “refúgios” ou o meu Jesus!

Mantive então o que estava planeado porque não tinha um plano B, mas tinha-me de tal maneira deixado levar por aquele sentimento de medo que tinha perdido a minha alegria.

(O meu quinto e maior refúgio)

Cheguei aquele campo vocacional tão desejado à anos, naquele estado tempestuoso... Foi preciso de novo a mão materna que me tinha acompanhado desde o inicio para me trazer de novo a paz. Lembro-me como se tivesse sido ontem, a metade do campo já cansada de oferecer resistência, apresentei-me diante da imagem de Nossa Senhora de Fátima na igreja do Castagno (o lugar onde estávamos) neste estado aflito e disse-lhe “Mãe, hoje tu e o teu filho podem fazer de mim o que quiserem, dou-te carta branca.”

 Era uma sensação de ter chegado ao meu limite e que o futuro tinha de ser confiado a alguém capaz de o conduzir. A vida consagrada era um desejo que tinha no meu coração, mas tinha sido colocado por Deus, e a resposta tinha de ser: “Sim, eis-me aqui para fazer a TUA VONTADE e não a minha”.  

Naquele momento senti uma paz muito grande e o medo desapareceu, tinha encontrado todos os meus “refúgios” num só: O Coração Imaculado de Maria.

Senti este eco: “O meu Coração Imaculado será o teu refugio e o caminho que te conduzirá até Deus”.
Decidi deixar tudo porque Ele me prometia TUDO e muito mais!

Deus nunca desilude e se começa uma obra leva-a até ao fim – foi a minha nova certeza (desta vez penso que bem fundamentada! J).

E finalmente, hoje estou em caminho, sob a proteção de Nossa Senhora da Divina Providência, em Pancole na casa de formação do Instituto. Estou feliz porque encontrei o meu lugar! Vivo muitos momentos de alegria e claro às vezes levantam-se ventos fortes que parecem querer virar tudo ao contrário, (o que acontece em todos os estados de vida!) e é ali que sou chamada a renovar o sim que disse naquele campo, e continuo em frente... Sobretudo é um tempo em que estou a aprofundar este desejo de me consagrar para que um dia seja uma entrega total e definitiva ao Coração de Jesus e de Maria.