Vai de coração aberto

de Ivone Delca

Ahhhh... Finalmente! Sim, porque depois do verão ter terminado e a escola começado, finalmente um dia de retiro, um dia em que pudemos verdadeiramente respirar.

Sou-vos sincera, porque também não vale a pena estar com palavras bonitas, se não for para dizer a verdade. Quando recebi o email a convidar para o retiro pensei em dizer que não ia, porque não estava com muita vontade, e porque o demónio queria privar-me desta graça imensa; mas levada pelo amor de Nosso Senhor pensei: "Bem... vai de coração aberto, quem sabe o que te espera!?". E lá fui eu, sábado de manhã meti-me no carro e vamos lá rumo à rua da Salgueira.

Chegámos, e depois tivemos a meditação, acerca dos mistérios luminosos. Neste retiro procurámos refletir e aprofundar um pouco, o primeiro mistério: o batismo de Jesus no rio Jordão. Desta palestra, ficaram-me duas ideias: a primeira foi uma pergunta colocada pelo padre Alberto, que me deixou a refletir - "Entre o Tudo e o nada quem ganha?". Num abraço dado entre Nosso Senhor, que é tudo, e tu, que és nada, quem achas que fica mais cheio?! Às vezes corremos o risco de pensar: "Vou fazer este sacrifício para agradar Nosso Senhor" ou "hoje vou à missa para Lhe agradar". Esta lógica de pensamento é errada, porque Jesus não precisa dos teus sacrifícios, és tu quem precisa deles. Nosso Senhor é uma fonte infinita de água, a qual quem precisa dela para viver és tu. 

Outra das coisas em que me pus a refletir foi o facto de Jesus, que era Deus, sem pecado, ir ao Jordão e pedir para ser batizado. Ele não precisava, era Deus! Ele fê-lo para se tornar semelhante a nós, para entrar no mundo do pecado para nos poder resgatar.

Acabada a palestra, tivemos um momento de adoração ao Santíssimo, ao mesmo tempo que tínhamos a graça de receber o perdão de Nosso Senhor através da confissão, e terminámos a manhã da melhor forma: com a Santa Missa. 

A parte da tarde foi marcada com encontros e um testemunho, o qual nos deixou ver Jesus, olhos nos olhos. Logo a seguir ao almoço, fomos visitar um lar de idosos. Entrámos todas, juntamente com a presença especial da nossa querida Mãe, apresentámo-nos e começámos a animá-los. Cantámos para eles, dançámos e partilhámos sorrisos. Depois de tanta alegria ali vivida, entregámos tudo à Mãe rezando o terço, e se até ali eu achava que aquele momento não passava de um tempo para estar um pouco com simples velhotes, durante o terço caiu-me a ficha.

À minha frente estava sentada uma senhora com muitas dores, e que por vezes gemia durante o terço. Numa das vezes em que gemeu e que foi lá uma auxiliar ajudá-la, eu ouvi a senhora a dizer à funcionária: "Estou feliz, mas com muitas dores". Esta frase, para mim, não foi dita por aquela senhora de idade, mas sim por Nosso Senhor. Se eu achava que estava ali para consolar alguns velhotes, ao ouvir aquela frase percebi que me tinha enganado, e que afinal era o próprio Deus que estava ali em cada um dos idosos, a querer encontrar-se conosco, falar-nos, e a pedir que O consolássemos um pouco. E para que não  tivesse mais dúvidas de que naqueles velhotes estava Nosso Senhor, na parede daquele lar estava marcada uma frase: "Quem vos acolhe, acolhe-me a Mim" Mt 10,40.

Depois deste forte encontro vivo com Jesus, pudemos ouvir o testemunho do nosso querido irmão Luís. Testemunho esse em que conta a história de um grande pecador para um homem que decide entregar-Lhe a vida e retirar-se do mundo. O que Nosso Senhor é capaz de fazer quando tu lhe abres um bocadinho a porta... Às vezes pensamos que são só os santos que conseguem largar os seus vícios, maus hábitos, tudo na sua vida para seguir Jesus, mas com a sua história, a história que Nosso Senhor traçou para o irmão Luís, essa história mostra-nos que também nós conseguimos seguir Jesus, e pegando na Sua mão, largar todo o pecado, seja ele grande ou pequeno. Este testemunho que deu o nosso irmão, penso que se lixe resumir à letra duma canção: "tocaste o meu rosto, com as tuas mãos de luz, e desenhaste este sorriso. O que mostro não sou eu, este sorriso é teu...".

Que grande dia foi este... E eu que tinha pensado em faltar a esta graça. De facto a inspiração de Nosso Senhor dizendo "vai de coração aberto" deu frutos, e tantos. Se pensar de novo naquele abraço entre o Tudo e o nada, chego à conclusão que recebi mil vezes mais do que o que dei... No que um dia normal nas mãos de Nosso Senhor se consegue transformar!